Ih, já estamos em maio? 🙈
Como voa esse contar de horas, não? Ao mesmo tempo, parece que continuo vivendo muitas vidas num espaço de tempo curtíssimo. Abril passou e minha meta de te enviar uma edição por mês não deu certo. Mas, como a meta é só minha, imagino que isso nem vá te importar, certo?
O início do meu ano foi guiado por PRESENÇA. Foi no último dia de 2024 que escolhi essa palavra para ser um grande letreiro luminoso, daqueles que se pode avistar de qualquer lugar que é para a gente nunca mais se esquecer da mensagem. Observei mais as sensações no corpo, fiquei mais instantes exclusivos com meus filhos, comecei a entender a arte de fermentar e acabei até assando alguns pães de fermentação natural. Fiz muitas caminhadas na floresta aqui ao lado de casa, tirei ervas daninhas do jardim enquanto via minha filha descobrir sua capacidade de se sentar sozinha, rastejar, engatinhar, se levantar. Esse constante observar me levou também a algumas pequenas mudanças radicais: resgatei o hábito de ter uma trilha sonora para os meus dias, abandonei livros que não conversavam com o meu momento, deixei afazeres domésticos por terminar quando sentia que já não queria mais continuá-los, entrei para um grupo de mulheres-mães da escolinha do meu filho, criando assim um novo círculo social na cidade onde moro.
E foi buscando essas novas amizades, com o intuito de recomeçar a vida real, que me voltou à memória a segunda palavra que determinei para este ano de 2025: ACEITAÇÃO.
Achei providencial escrever as próximas três edições (até junho) sobre temas que permeiam essa temática. Na edição de hoje, trago para você um pouco sobre aceitar-se quem se é. Acredito que não falo só por mim quando confesso o quanto é difícil acolher o próprio ser, principalmente em tempos de constante comparação.
Boa leitura 🧡
Daniela
Mal abri os olhos e já estava repassando na cabeça as cenas do jantar de ontem na casa da Marie. Será que deveria ter falado aquilo? Hm, ela não me fez nenhuma pergunta depois do que eu disse…será que falei demais? Deveria ter feito mais perguntas e me mostrado mais interessada? Talvez eu devesse ter ficado mais calada…quando se chega em um lugar novo, é melhor observar do que tagarelar demais, Daniela!
Normalmente, os questionamentos vão embora da mesma forma que vieram: repentinamente. O que me relaxa, é pensar se eu faria algo de diferente numa próxima vez. Não, ontem eu teria sido exatamente assim: nada introvertida e puxando papo com todo mundo. No entanto, por serem indagações recorrentes, quis ir mais a fundo e refletir sobre o porquê disso.
Ando enferrujada nesse quesito de amizades da vida real. Desde a pandemia, essa área da minha vida ficou on hold, em pausa.
Um novo relacionamento, uma gravidez, um casamento, um motorhome, um novo trabalho, mais uma gravidez (só para resumir bem rápido todo esse ciclo de quase cinco anos). Tudo isso me catapultou para longas viagens introspectivas. Se um puerpério já te puxa para uma bolha junto da sua cria, imagina então dois, somados ainda a alguns períodos de isolamento por conta de uma pandemia e uma viagem de carro sem data para voltar.
É real quando digo que, nesses últimos anos, não tive espaço, nem físico nem mental, para me dispor a encontrar tantas pessoas, muito menos a conhecer gente nova para valer. Precisava assimilar as novas versões de mim que nasciam a cada dez meses.
Contudo, agora já faz mais de dois anos que voltamos a ter endereço fixo. Ao deixar a casa sobre rodas, desembarcamos na cidade natal do meu marido e com uma rede de apoio confiável e afetuosa por perto, decidimos ficar por aqui mesmo. Resolvi que estava mais do que na hora de recomeçar a vida offline de novo.
Não sabia bem como iniciar esse recomeço, mas foi mais fácil do que eu imaginava: através da mãe de um amiguinho da escolinha do nosso primogênito, descobri um seleto grupo de mulheres que se encontravam mensalmente para papear, trocar receitas, experiências e, claro, ter um momento de descanso das muitas atividades de uma mulher-mãe-profissional. Quando contei à essa mãe sobre minhas tentativas com a fermentação natural de pães, ela já quis logo me adicionar no grupo de WhatsApp: tenho certeza que você vai se encaixar bem na nossa turma. Fiquei animada e um tanto apreensiva ao mesmo tempo. Seria possível ter encontrado uma nova patotinha? Agora era só interagir no grupo e vivenciar o clima entre as mulheres ao vivo.
Nem sempre questionei meu comportamento nessas interações interpessoais, mas teve um acontecimento há mais de dez anos que contribuiu para aumentar a quantidade de perguntas em minha mente. Durante minha primeira experiência morando numa república, tive um conflito chato com a menina com quem dividia a casa. Éramos quatro: dois homens e duas mulheres. Ela era uns três anos mais velha que eu. Depois de seis semanas morando juntas, tivemos um desentendimento e decidimos nos sentar para esclarecer as coisas. Nem sei dizer mais como a conversa se deu, mas jamais vou esquecer do que ela me disse: Você é muito dominante. É sempre você, você, você. Tudo gira em torno de você.

Foi um baque e tanto. Nunca tinha me visto através dessa lente e, ainda assim, lá estava ela. Na época, foram necessárias inúmeras conversas com amigos sobre aquele e outros episódios futuros, nos quais me senti insegura quanto ao que expor e como me expressar (vale dizer que estamos falando de interações num outro idioma e, portanto, a questão cultural também pesava). Até pensei em procurar uma terapia, mas não cabia no meu bolso.
Nem imaginava que isso pudesse ser considerado um trauma, mas se essa memória voltou num momento como este, no qual, como em 2014, eu também estou buscando uma integração, é sinal de que alguma coisa ainda precisa ser trabalhada.
Desta vez, estou fazendo a terapia caber no bolso e tem sido um presente ter o acompanhamento de uma profissional competente. Numa das sessões em que comentei sobre a noite com as mulheres-mães da escolinha, minha psicóloga me abriu os olhos para uma questão que andava obscura para mim: a correlação entre esse aceitar-se e o meu valor no mundo. Ela resumiu de forma simples todas aquelas minhas indagações pós-jantar: me parece que suas perguntas giram em torno de uma questão central: “qual é o meu valor aos olhos dos outros?”
É engraçado esse processo, em que o outro nos espelha tudo que sai de nós. Apesar de uma autopercepção afiada, não tinha reparado em qualquer associação entre as minhas perguntas e uma valorização do meu ser.
Minha terapeuta continuou: saber o nosso valor tem a ver com a nossa autoestima. Não aquela que a gente racionalmente sabe falar sobre, mas também aquela demonstrada em nossas ações. Dani, como você se acolhe na hora que você falha? Entende que a tua autoestima está aí também. Mais uma questão que até então eu não tinha enxergado por essa perspectiva.
Para complementar minhas ideias, fui pesquisar no dicionário online Aulete e descobri que, por definição, autoestima é a “qualidade ou condição psicológica de quem está satisfeito consigo mesmo e demonstra confiança no próprio modo de ser e de agir; AMOR-PRÓPRIO”.
Racionalmente eu te digo: minha autoestima é existente. Ouso até dizer que ela é altíssima. Mas o que significam então as sensações e mensagens que meu corpo não cansa de enviar? Eu estou mesmo satisfeita comigo? Aceito e acolho quem sou?
Para ser sincera, acho que nunca terei uma resposta clara e definitiva. Essas interações sociais e o nosso processo evolutivo é uma infinita dança entre querer ser aceita e pertencer a um novo lugar sem deixar de ser quem se é, permitindo e acolhendo mudanças.
Naquela noite na casa da Marie, éramos cinco mulheres-mães, todas interessadas em ouvir mais sobre pães de fermentação natural. A anfitriã tem se especializado nisso nos últimos anos e resolveu nos apresentar um pouco do que sabe, organizando uma degustação de pães. Foi uma noite gostosa entre mulheres distintas, mas também com muitos interesses e hábitos semelhantes. Voltei de lá eufórica, cheia de energia, como uma criança que tem a sua primeira experiência de amizade. Me senti parte de um grupo que combina comigo.
Fui eu mesma a todo instante: nada introvertida e puxando papo com todo mundo.
É isso, independente das inúmeras indagações, de histórias ou traumas antigos, não dá para fugir, ser quem sou é o que tenho a oferecer e as experiências confirmam: é sempre a única melhor pedida.
o mais importante é a gente se sentir bem e em paz com quem a gente é. é bem mais fácil no discurso do que na prática, mas a gente chega lá. 😊
Essa linha tênue entre aceitar quem somos, essa essência sempre em transição, e, ao mesmo tempo, estar aberta para mudar quando preciso.
Delícia te ler, Daninha!
E obrigada por compartilhar meu texto 🥰